7 de jun. de 2012

Falta

Penso em postar uma linda peça aqui no blog, mas logo em seguida desanimo
estou em um momento diferente, um pouco alheia ao glamour e ansiedade da delícia de comprar
estou na fase que me levou a criar esse blog em 2010
a fase da poesia
da explosão de sentimentos
da sensibilidade à flor da pele
do blues,
de Aretha Franklin, Enya, Richard Clayderman, Elton John e tantos outros
da quietude, de só querer ver o passar do tempo
da fase redoma, que se resume a 4 metros quadrados, uma cama amarfanhada, travesseiros jogados, computador ligado, música leve de fundo, meia luz e telefone silencioso
fase do sentir
de sentir as palavras se atropelarem no inconsciente consciente e saber que elas precisam ser expostas, ser grafadas de uma forma ou de outra, sob pena de se perderem de mim mesma
de não saber porque sente falta nem o que mais lhe faz falta.
da impressão de que tudo se resume a isso: falta. Falta de algo inominável, mas doloroso
os pensamentos insistem em questionar sobre do que sinto falta, mas recebe como resposta o silêncio, total e inexorável. É como se o mutismo do silêncio zombasse da incerteza e me desafiasse a buscar essa resposta por mim mesma.
no entanto, os pensamentos desgovernados não sabem mais aonde buscar resposta, vez que no fundo só se apercebe do emaranhado de pensamentos conflitantes.
São momentos de recolhimento e de reflexão total em que as perguntas martelam ininterruptamente no correr da noite e se prolongam madrugada a dentro
de tudo a certeza: a falta de algo, do quê, é o x da questão.
sinto falta de tudo do passado, mesmo tendo um presente tão bom
falta que dói do pai que partiu tão cedo e só deixou saudade das brincadeiras de pegar no colo e jogar para cima enquanto cantava uma música suave e sem sentido algum, da cócegas feita na barriga só para ouvir a rizada gostosa que dávamos, do pedido para espremer uma espinha nas costas mesmo não tendo nenhuma só para ser dengado, do olhar que transbordava amor por todos os lados
falta da mãe, viúva tão jovem e com tantas responsabilidades, mas tão dedicada aos filhos. Quão terno era ver aquela mãe cuidando e protegendo sua prole como uma leoa
que me faz ter como lema nunca me permitir esquecer o quanto a ela devo, e quão preciosa ela é.
Talvez, lá no fundo eu tenha certeza que sinto falta de mim mesma.


Val Araújo

Um comentário:

  1. Val,
    Você consegue expressar tanto sentimento nas palavras que até fico na dúvida se devo esperar as peças ou ansiar pelas palavras. Quem sabe entremeando uma e outra consiga chegar no equilíbrio.
    Lindo demais! Beijos!

    Cleo

    ResponderExcluir